segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A arte da Colagem



Arte popular, arte aplicada, ou expressão artística, a colagem tem sido utilizada desde a antiguidade.
Os primeiros exemplos provêm do Japão através da arte caligráfica em que são famosas as tábuas-poema, os “poemas colados” em tiras verticais sobre uma superfície, datados do século XII.
A palavra colagem é a forma substantiva do verbo colar, derivado do latim “collare”. Curiosamente, algumas línguas latinas, como o castelhano, não dispõem desta expressão, sendo adoptada a palavra francesa “Collage”.
Sendo considerada uma técnica expressiva, com possibilidades ilimitadas, poderíamos definir a colagem como uma técnica plástica que utiliza materiais heterogéneos que, juntos ou sobrepostos, se colam a um suporte. Mas a colagem é mais do que isto…
É a Picasso e a Braque que se deve a adopção desta técnica particular com a inserção na pintura de diferentes tipos de materiais, como papéis decorados, jornal, madeira, oleado, plástico, tecido, areia, enfim, toda uma vasta gama de materiais.
Na altura em que o cubismo se encontrava em pleno desenvolvimento, na primavera de 1912, Picasso executou uma série de desenhos a carvão aos quais acrescentou outros materiais, como bocados de papel usados na decoração de paredes e pedaços de jornal. Além disso, introduziu nas suas pinturas números e palavras impressas.
A ideia de Picasso, de início considerada apenas divertida e corajosa, constitui na realidade uma verdadeira REVOLUÇÃO na pintura, e não só do ponto de vista técnico.
Com a nova técnica da colagem, Picasso rompeu a tradicional compostura da pintura a óleo, baseada no respeito pelos materiais clássicos da cor e do suporte, quebrando a regra, até aí intocável, que exigia para a realização dos quadros o uso exclusivo dos materiais tradicionais: as tintas a óleo e o suporte de tela.
A colagem tornava-se assim uma montagem de três dimensões, um objecto composto por variados materiais de uso diário, e mesmo de desperdícios, que assim expressava de uma forma directa a realidade e o quotidiano.
Estas técnicas representavam uma recolha importante face à concepção tradicional da obra de arte. Assim podemos afirmar que a colagem foi a expressão artística que rompeu com séculos de pintura tradicional, tornando-se o arquétipo de todas as vanguardas que fizeram o século XX e toda a arte moderna.


Por estes motivos, não é de estranhar que a generalidade de todos os artistas modernos e contemporâneos praticassem a colagem como meio de expressão, e é quase impossível realizar uma lista exaustiva.

Movimentos como o Dadaísmo (que se afirmava um movimento contra todos os movimentos), elegeram a colagem como principal meio de expressão, introduzindo nas suas criações a ironia, a provocação, o realismo e o niilismo.
Interessa aqui referir este curioso movimento que, não sendo uma escola nem tão pouco um estilo, mas sim uma filosofia, um estado de espírito, não constituindo por si um movimento homogéneo e onde as possibilidades de expressão não têm limites - “a cada artista Dada a sua maneira” - elege, como tal, a colagem como o principal veículo das suas ideias, caracterizando-se pela abstenção completa de sistema, denegrindo todo o sentido de senso e de todos os valores sociais e estéticos em vigor.
Marcel Duchamp declara que não é o saber fazer que cria a obra de arte mas a ideia, que a invenção do artista prima sobre a execução.
Em Portugal o movimento apelidado de Modernismo, que engloba ideias futuristas e cubistas, tem os seus representantes e autores de colagens. No nº. 2 da revista Orpheu são publicadas colagens de Santa-Rita Pintor, uma delas datando de 1912. Também Amadeu Souza Cardoso vindo, de Paris em 1914, produz trabalhos de grande qualidade expressiva onde incorpora técnicas de colagem, estando perfeitamente alinhado com as vanguardas, sendo mesmo considerado um Proto-dadaísta.
Ao longo do século XX muitos dos autores criadores e artistas portugueses praticaram a arte da colagem, bem merecendo um estudo mais aprofundado e detalhado.

“Desenhar com a tesoura, recortar as cores vivas, lembra-me o trabalho directo dos escultores… uma tesoura é um instrumento maravilhoso e o papel que uso para os meus recortes é magnífico… trabalhar com a tesoura neste papel é uma ocupação na qual me posso perder… o meu prazer pelo recorte aumenta a cada dia que passa! Por que é que não pensei nisto antes? Cada vez me convenço mais de que com um simples recorte se pode expressar as mesmas coisas do que com o desenho e a pintura…”. Henry Matisse em “ Escritos e Pensamentos sobre a Arte”


(Armando Brás)


Natália

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